Nossos
comandantes, mandatários, entendidos em educação pregam, ultimamente, que a aprendizagem
deve ser prazerosa, tanto para o aluno quanto para o professor. Disse certa
feita ter enorme prazer em ensinar, aliás, não fosse essa satisfação com o
metier já o teria abandonado, afinal, não há, no Brasil, outro retorno a quem
se dedica à docência. Responderam-me que é importante, mas que o aluno também
tem que sentir prazer em aprender, como se a satisfação em saber que o aluno se
sente bem aprendendo não fizesse parte da minha satisfação em ensinar. Até aí
tudo bem, mas pensemos um pouco mais no paradoxo Aprendizagem X Prazer.
Existe
mesmo algo que nos traga real prazer totalmente isento de sacrifícios, de
sofrimentos ou mesmo de certo desconforto, entendendo, é claro, as palavras
sacrifício, sofrimento e desconforto como unicamente o contrário ao prazer?
Vejamos.
Algo aparentemente simples como é a constituição de uma família é possível sem
alguns sacrifícios? Creio que não. Manter uma relação por muito tempo é deveras
difícil, até mesmo impossível para alguns. Mas todos os “sacrifícios” são recompensados
pelo resultado, pela boa criação dos filhos, o carinho dos netos, o conforto de
uma vida estruturada.
Onze
em cada dez mulheres gostariam de chegar aos 40 com corpinho de 20 esbanjando
saúde, beleza e vigor. Mas existe uma fórmula mágica para se chegar a essa
satisfação sem sacrifícios? Certamente não. Não é nada fácil dedicar uma boa
parte do tempo em academias, privar-se do convívio social, familiar para
dedicar horas a longas caminhadas solitárias, privar-se de excessos, de certos
prazeres para não ultrapassar os limites impostos pela balança e pela lei da
gravidade.
Mesmo
algo simples como aprender outros idiomas se mostra missão quase inatingível
para quem tem dificuldades em seguir regras, manter rotinas, estabelecer metas.
Sacrifícios, desconfortos, desprazeres para se alcançar objetivos que
certamente trarão prazeres reais ao corpo e à alma.
Talvez
o problema esteja apenas na nossa visão tupiniquim de prazer. Associamos prazer
ao conforto pelo conforto, ao ócio pelo ócio, ao não fazer pelo não fazer.
Talvez se apenas substituíssemos a palavra prazer por satisfação nos seria mais
fácil assimilar o papel da educação na vida do educando, pois satisfação admite
sacrifícios, desconforto, desprazer para ser alcançado.
Penso
que para quem não tem a inteligência lógico-matemática, como diz Gardner, não é
nada fácil aprender a fazer cálculos, todavia, nos tempos em que a educação era
rara, cara e severa, portanto pouco prazerosa, os engenheiros construíram
edificações que atravessaram os séculos e perduram até os dias de hoje. Em
tempos de educação universalizada, barata e “prazerosa” não conseguimos
construir viadutos que durem pelo menos até ser inaugurados. E isso não é uma
realidade absoluta. Em países onde a educação é levada a sério bate-se recordes
de altura dos prédios, invade-se o mar com obras que desafiam a lógica,
modifica-se a natureza fazendo brotar o verde onde só se podia enxergar
deserto.
Para
quem não tem a inteligência linguística é difícil perceber como um “batatinha
quando nasce...” se transforma em um “to be, or not to be: that is the
question”. É praticamente impossível o discernimento entre “intenção e gesto”,
como diz Chico, quando não se domina a semântica necessária para distinguir o
pluralismo de sentidos metaculturais que podem conter um simples verso.
Em
resumo, creio que nossos alunos precisam sentir satisfação em estudar, tendo a
clareza de saber que adquirir conhecimento não é tarefa das mais fáceis, pelo
contrário, adquirir conhecimento acadêmico, científico é desfazer-se, muitas
das vezes, dos conhecimentos empíricos passados pelos pais, impostos pela
sociedade, o que gera conflitos interiores, exteriores e até ulteriores à
convicção do próprio ser.
Adquirir
conhecimento envolve muito sacrifício e até um desconforto, mas que é
compensado a posteriori por tudo que se pode com ele, por meio dele, realizar.
Por Cristian Menezes 2017

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