quinta-feira, abril 9

Quem disse que aprender é fácil?



Nossos comandantes, mandatários, entendidos em educação pregam, ultimamente, que a aprendizagem deve ser prazerosa, tanto para o aluno quanto para o professor. Disse certa feita ter enorme prazer em ensinar, aliás, não fosse essa satisfação com o metier já o teria abandonado, afinal, não há, no Brasil, outro retorno a quem se dedica à docência. Responderam-me que é importante, mas que o aluno também tem que sentir prazer em aprender, como se a satisfação em saber que o aluno se sente bem aprendendo não fizesse parte da minha satisfação em ensinar. Até aí tudo bem, mas pensemos um pouco mais no paradoxo Aprendizagem X Prazer.
Existe mesmo algo que nos traga real prazer totalmente isento de sacrifícios, de sofrimentos ou mesmo de certo desconforto, entendendo, é claro, as palavras sacrifício, sofrimento e desconforto como unicamente o contrário ao prazer?
Vejamos. Algo aparentemente simples como é a constituição de uma família é possível sem alguns sacrifícios? Creio que não. Manter uma relação por muito tempo é deveras difícil, até mesmo impossível para alguns. Mas todos os “sacrifícios” são recompensados pelo resultado, pela boa criação dos filhos, o carinho dos netos, o conforto de uma vida estruturada.
Onze em cada dez mulheres gostariam de chegar aos 40 com corpinho de 20 esbanjando saúde, beleza e vigor. Mas existe uma fórmula mágica para se chegar a essa satisfação sem sacrifícios? Certamente não. Não é nada fácil dedicar uma boa parte do tempo em academias, privar-se do convívio social, familiar para dedicar horas a longas caminhadas solitárias, privar-se de excessos, de certos prazeres para não ultrapassar os limites impostos pela balança e pela lei da gravidade.
Mesmo algo simples como aprender outros idiomas se mostra missão quase inatingível para quem tem dificuldades em seguir regras, manter rotinas, estabelecer metas. Sacrifícios, desconfortos, desprazeres para se alcançar objetivos que certamente trarão prazeres reais ao corpo e à alma.
Talvez o problema esteja apenas na nossa visão tupiniquim de prazer. Associamos prazer ao conforto pelo conforto, ao ócio pelo ócio, ao não fazer pelo não fazer. Talvez se apenas substituíssemos a palavra prazer por satisfação nos seria mais fácil assimilar o papel da educação na vida do educando, pois satisfação admite sacrifícios, desconforto, desprazer para ser alcançado.
Penso que para quem não tem a inteligência lógico-matemática, como diz Gardner, não é nada fácil aprender a fazer cálculos, todavia, nos tempos em que a educação era rara, cara e severa, portanto pouco prazerosa, os engenheiros construíram edificações que atravessaram os séculos e perduram até os dias de hoje. Em tempos de educação universalizada, barata e “prazerosa” não conseguimos construir viadutos que durem pelo menos até ser inaugurados. E isso não é uma realidade absoluta. Em países onde a educação é levada a sério bate-se recordes de altura dos prédios, invade-se o mar com obras que desafiam a lógica, modifica-se a natureza fazendo brotar o verde onde só se podia enxergar deserto.
Para quem não tem a inteligência linguística é difícil perceber como um “batatinha quando nasce...” se transforma em um “to be, or not to be: that is the question”. É praticamente impossível o discernimento entre “intenção e gesto”, como diz Chico, quando não se domina a semântica necessária para distinguir o pluralismo de sentidos metaculturais que podem conter um simples verso.
Em resumo, creio que nossos alunos precisam sentir satisfação em estudar, tendo a clareza de saber que adquirir conhecimento não é tarefa das mais fáceis, pelo contrário, adquirir conhecimento acadêmico, científico é desfazer-se, muitas das vezes, dos conhecimentos empíricos passados pelos pais, impostos pela sociedade, o que gera conflitos interiores, exteriores e até ulteriores à convicção do próprio ser.
Adquirir conhecimento envolve muito sacrifício e até um desconforto, mas que é compensado a posteriori por tudo que se pode com ele, por meio dele, realizar.

Por Cristian Menezes 2017

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