quarta-feira, outubro 18

FILOSOFIA

Filosofia Política



Introdução
Entre as diversas questões que a filosofia visa investigar, pode-se perguntar sobre como é e como deveria ser o convívio em sociedade. Se for investigada a palavra política, que vem do grego, será compreendido que politika refere-se aos assuntos da cidade (pólis). É neste sentido que, em filosofia política, pergunta-se sobre a natureza das leis, a natureza do governo, a origem da organização social e sobre qual seria a melhor forma de convívio entre os indivíduos. Todos estes temas nos levam a pensar sobre o espaço público, que é o espaço da política.

Platão
O primeiro filósofo a sistematizar uma ideia política foi Platão (428-7 – 348-7 a.C.). Ele escreveu sobre o assunto principalmente em dois livros, A república e As leis. Nestes livros, apresenta a ideia de que uma sociedade bem ordenada é aquela onde cada indivíduo desempenha a função na qual é mais habilidoso. Os hábeis com as mãos deveriam ser artesãos, os fortes devem proteger a cidade e os sábios devem governá-la. Platão pensa também sobre como deve ser a educação nesta cidade ideal, para conseguir desenvolver em cada criança o seu potencial a fim de que possa executar melhor a sua função. Cada indivíduo, para ele, será livre enquanto estiver cumprindo as leis, criadas com o intuito de melhor conduzir a cidade.

Aristóteles
Ainda no mundo grego, Aristóteles (384 – 322 a.C.) vai discordar de Platão. Em Política, Aristóteles pensa que a cidade ideal de Platão, onde há prioridade daquilo que é público sobre aquilo que é privado, não funcionaria muito bem. Para ele, as pessoas dão mais valor ao que pertence a si mesmo, do que ao que pertence a todos. Aristóteles se preocupou menos com hipóteses de uma sociedade perfeita e mais em compreender a realidade política de seu tempo, estudando as leis de diferentes cidades e as formas de governo existentes. A melhor forma de organização política, defendida por ele, é um sistema misto de democracia e aristocracia, chamado politia, para evitar os conflitos de interesses entre os ricos e pobres. É dele também a ideia de que o homem é um animal político, isto é, que faz parte da natureza humana se organizar politicamente.

Thomas Hobbes
A ideia de que é natural se organizar politicamente perdurou até o séc. XVII. Thomas Hobbes (1588 – 1679), conhecido por ter escrito Leviatã, propôs a ideia de que a sociedade se organiza a partir de um contrato social. Pensou assim, pois é possível imaginar uma hipótese sobre o convívio humano antes da formação das sociedades. Hobbes via esse momento como uma guerra de todos contra todos, onde, em liberdade, cada indivíduo iria apenas pensar em sua conservação. Deste momento, no qual o homem é o lobo do homem, a racionalidade faz o homem perceber que a melhor forma de conservar a sua vida é perdendo um pouco de liberdade. É neste instante que os homens assinam um contrato fictício de convívio social. A partir desta origem da sociedade, Hobbes pensa no melhor governo para evitar o retorno para um estado de natureza caótico. Com isto, vê a garantia da vida como função vital do Estado, que deve defendê-la mesmo que use de seu poder para coagir a liberdade dos cidadãos.

John Locke
Pensando na ideia de um contrato social, John Locke (1632 – 1704), em seus dois tratados políticos, escreveu que antes da formação das sociedades os indivíduos não viviam em guerra, pois estavam debaixo de leis naturais. Para ele, é natural a garantia da vida e os homens racionais respeitariam esta lei. A formação das sociedades ocorre pela necessidade da garantia da propriedade. O melhor governo, para Locke, é aquele que garanta os direitos à vida, liberdade, propriedade e de se revoltar contra governos injustos e leis injustas.

Jean-Jacques Rousseau
Ainda pensando sobre a noção de contrato, Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) via o homem vivendo antes da formação das sociedades de forma bem otimista. Para Rousseau, havia terra e alimento para todos e não haveria motivos para que guerreassem entre si. Via no surgimento da propriedade o surgimento da desigualdade, de onde resultam diversos males sociais, como os roubos e os assassinatos. Neste sentido, sendo impossível retornar a um estado de natureza, o melhor governo é aquele que esteja de acordo com a vontade da maioria.

John Rawls
A forma de pensar dos contratualistas (Hobbes, Locke e Rousseau) foi retomada no século XX por John Rawls (1921 – 2002). Para ele, a sociedade deve basear-se em princípios de justiça escolhidos na fundação da sociedade. Em igualdade, ele pensa, os indivíduos escolheriam dois princípios de justiça, o de liberdades iguais para todos e o de que as desigualdades devem trazer maior benefício para os menos favorecidos e serem acessíveis a todos por igualdade de oportunidade.

Filipe Rangel Celeti 
Colaborador Mundo Educação 
Bacharel em Filosofia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – SP 
Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie - SP



FILOSOFIA


IDEOLOGIA


Ideologia é um termo que possui diferentes significados e duas concepções: a neutra e a crítica. No senso comum o termo ideologia é sinônimo ao termo ideário, contendo o sentido neutro de conjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas. Para autores que utilizam o termo sob uma concepção crítica, ideologia pode ser considerado um instrumento de dominação que age por meio de convencimento (persuasão ou dissuasão, mas não por meio da força física) de forma prescritiva, alienando a consciência humana.
Para alguns, como Karl Marx, a ideologia age mascarando a realidade. Os pensadores adeptos da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt consideram a ideologia como uma ideia, discurso ou ação que mascara um objeto, mostrando apenas sua aparência e escondendo suas demais qualidades. Já o sociólogo contemporâneo John B. Thompson também oferece uma formulação crítica ao termo ideologia, derivada daquela oferecida por Marx, mas que lhe retira o caráter de ilusão (da realidade) ou de falsa consciência, e concentra-se no aspecto das relações de dominação.
A origem do termo ocorreu com Destutt de Tracy, que criou a palavra e lhe deu o primeiro de seus significados: ciência das ideias. Posteriormente, concluíram que esta palavra ganharia um sentido novo quando Napoleão chamou De Tracy e seus seguidores de "ideólogos" no sentido de "deformadores da realidade". No entanto, os pensadores da Antiguidade Clássica e da Idade Média já entendiam ideologia como o conjunto de ideias e opiniões de uma sociedade.
Karl Marx desenvolveu uma teoria a respeito da ideologia na qual concebe a mesma como uma consciência falsa, proveniente da divisão entre o trabalho manual e o intelectual. Nessa divisão, surgiriam os ideólogos ou intelectuais que passariam a operar em favor da dominação ocorrida entre as classes sociais, por meio de ideias capazes de deformar a compreensão sobre o modo como se processam as relações de produção. Neste sentido, a ideologia (enquanto falsa consciência) geraria a inversão ou a camuflagem da realidade, para os ideais ou interesses da classe dominante.

Concepção crítica
O uso crítico do termo ideologia pressupõe uma diferenciação implícita entre o que vem a ser um "conjunto qualquer de ideias sobre um determinado assunto" (concepção neutra sinônima de ideário), e o que vem a ser o "uso de ferramentas simbólicas voltadas à criação e/ou à manutenção de relações de dominação" (concepção crítica). A partir deste ponto-de-partida comum a todos os significados do termo ideologia que aderem à concepção crítica, o que se tem são variações sobre a forma e o objetivo da ideologia. A principal divergência conceitual da concepção crítica de ideologia está na necessidade ou não de que um fenômeno, para que seja ideológico, necessariamente tenha de ser ilusório, mascarador da realidade e produtor de falsa consciência. A principal convergência conceitual, por outro lado, está no pré-requisito de que para um fenômeno ser ideológico, ele necessariamente deverá colaborar na criação e/ou na manutenção de relações de dominação. Ainda, no que se refere às relações de dominação, há diferentes olhares sobre quais destas relações são alvo de fenômenos ideológicos: se apenas as relações entre classes sociais, ou também relações sociais de outras naturezas. Alguns questionamentos neste sentido possuiriam respostas diferentes a depender do autor crítico:
Para que algo possa ser concebido como ideológico, deve necessariamente haver ilusão, mascaramento da realidade e falsa consciência? Marx responderia que sim. Thompson responderia que estas são características possíveis, mas não necessárias, para a existência de ideologia;
A única dominação à qual se refere a ideologia é aquela que ocorre entre classes sociais? Marx novamente diria que sim. Thompson complementaria com uma lista de outras formas de dominação também existentes na sociedade: entre brancos e negros, entre homens e mulheres, entre adultos e crianças, entre pais/mães e filhos(as), entre chefes e subordinados, entre nativos e estrangeiros.
Para aqueles que adotam o termo ideologia segundo a concepção crítica, não faz sentido dizer: que um indivíduo ou grupo possui uma ideologia; que existem ideologias diferentes que cada um tem a sua própria ideologia; que cada partido tem uma ideologia; que existe uma ideologia dos dominados. Ideologia, pela concepção crítica, não é algo disseminável como é uma ideia ou um conjunto de ideias; ideologia, neste sentido crítico, é algo voltado à criação/manutenção de relações de dominação por meio de quaisquer instrumentos simbólicos: seja uma frase, um texto, um artigo, uma notícia, uma reportagem, uma novela, um filme, uma peça publicitária ou um discurso.
Em Ideologia e cultura moderna, John B. Thompson procurou fazer uma análise crítica sobre as formulações para o termo ideologia propostas por diferentes autores, que ele classificou segundo duas concepções: neutras e críticas. Neste sentido, Thompson considerou as formulações propostas por Destutt de Tracy, Lênin, Georg Lukács e a "formulação geral da concepção total de Mannheim" como concepções neutras de ideologia; já as formulações de Napoleão, Marx (concepções polêmica, epifenomênica e latente) e a "concepção restrita de Mannheim" viriam a ser concepções críticas de ideologia. O próprio Thompson, finalmente, ofereceu a seguinte formulação (crítica), apoiada na "concepção latente de Marx": "ideologia são as maneiras como o sentido serve para estabelecer e sustentar relações de dominação".6 Esta formulação proposta por Thompson é carregada de significados:

Discurso
O discurso tem uma dimensão ideológica que relaciona as marcas deixadas no texto com as suas condições de produção, que se insere na formação ideológica. Essa dimensão ideológica do discurso pode tanto transformar quanto reproduzir as relações de poder. Para Marx, essa dominação se dá pelas relações de produção que se estabelecem, e as classes que estas relações criam numa sociedade. Por isso, a ideologia cria uma "falsa consciência" sobre a realidade que tem como objetivo reforçar e perpetuar essa dominação. Já para Gramsci, a ideologia não é enganosa ou negativa em si, mas constitui qualquer ideário de um grupo de indivíduos; em outras palavras, poder-se-ia dizer que Gramsci rejeita a concepção crítica e adere à concepção neutra de ideologia. Para Althusser, que recupera a ótica marxista, a ideologia é materializada nas práticas das instituições, e o discurso, como prática social, seria então “ideologia materializada”.
Para Paulo Freire, a ideologia tem a ver com a ocultação da verdade dos fatos, com o uso da linguagem para encobrir a realidade.

Alienação
Alienação tem diversos significados, pode ser uma cessão de bens, transferência de domínio de algo ou uma perturbação mental.
A alienação é a diminuição da capacidade dos indivíduos em pensar ou agir por si próprios.
Os indivíduos alienados não têm interesse em ouvir opiniões alheias, e apenas se preocupam com o que lhe interessa, por isso são pessoas alienadas.
Um indivíduo alienado pode ser também alguém que perdeu a razão, ou seja, que está louco.
Na psicologia, o termo alienação designa os conteúdos reprimidos da consciência e também os estados de despersonalização em que o sentimento e a consciência da realidade se encontram fortemente diminuídos.
A alienação de bens é o ato ou efeito de alienar uma propriedade ou um bem, ou seja, ceder para outrem a posse.

Alienação na Filosofia
A filosofia do direito do século XVIII, abordava a alienação como a renunciação de algumas liberdades individuais a favor do Estado.
No sentido estritamente filosófico, entende-se por alienação o processo ou estado em que algo ou alguém é ou se converte num estranho para si próprio (distante, desconhecido, alheio, outro).

Alienação Social
A alienação social está relacionada com um estado mental do ser humano.
Neste estado mental, ele não compreende que é o formador da sociedade e da política, e aceita tudo sem questionar.
A alienação social incapacita o pensamento independente do ser humano, e ele passa a aceitar tudo como algo natural, racional ou divino.
Este tipo de alienação é considero o oposto do pensamento crítico, por exemplo.

FILOSOFIA

O Sagrado e o Profano


Exposição "Corpo Humano: Real e Fascinante"

Há alguns anos a exposição "Corpo Humano: Real e Fascinante" gerou curiosidade e polêmica no Brasil ao apresentar uma série de corpos humanos dissecados, polimerizados e exibidos como "obra de arte". Além do impressionante aspecto estético das peças expostas, os organizadores do evento exaltavam seu caráter científico e até educativo. Afinal, do ponto de vista fisiológico, a mostra era equivalente a uma verdadeira aula de anatomia. Em todo caso, a controvérsia que se in Há alguns anos a exposição "Corpo Humano: Real e Fascinante" gerou curiosidade e polêmica no Brasil ao apresentar uma série de corpos humanos dissecados, polimerizados e exibidos como "obra de arte". Além do impressionante aspecto estético das peças expostas, os organizadores do evento exaltavam seu caráter científico e até educativo. Afinal, do ponto de vista fisiológico, a mostra era equivalente a uma verdadeira aula de anatomia. Em todo caso, a controvérsia que se instaurou em torno da exposição dizia respeito às questões éticas envolvidas na obtenção e no tratamento dos corpos - provenientes da China -, bem como na suposta introdução de drogas e substâncias químicas antes mesmo de consumada a morte do indivíduo - o que representaria uma grave afronta aos direitos humanos. O exemplo singular nos convida a traçar uma breve história do corpo, desde os antigos gregos até os dias atuais, refletindo sobre a relação entre o físico e a consciência com base em fenômenos recentes como, por exemplo, o da stripper Dita von Teese, tema da reportagem de VEJA.  

O CORPO COMO OBSTÁCULO AO CONHECIMENTO
A tradição ocidental quase sempre procurou explicar o ser humano como composto de duas partes fundamentalmente distintas e separadas: o corpo (material) e a alma (espiritual e consciente). O grego Platão (séc. V a.C.), por exemplo, é um dos maiores defensores desta realidade dupla e ensina que, quando a alma se une ao corpo, ela se degrada, por tornar-se prisioneira dele. Assim, sua teoria das ideias proclama o abandono do efêmero mundo sensível em prol do eterno, imutável e perfeito mundo inteligível.

O CORPO COMO RELICÁRIO DA ALMA – A SACRALIZAÇÃO DO CORPO
O senso comum se aproxima de um dos pontos mais decisivos para a sustentação do dualismo corpo-alma, também por parte dos pensadores cristãos: a crença na superioridade do espírito sobre as emoções e apetites da carne.
Não é acidental que esta convicção secular venha a adquirir o status de dogma pelo menos até o fim da Idade Média, sendo em grande medida adotada por filósofos religiosos como Santo Agostinho, entre outros. Partindo do princípio de que o corpo é a sede do pecado original - e, portanto, a fonte de toda a corrupção do homem -, seus desejos e prazeres devem ser firmemente repudiados, através de práticas ascéticas como o jejum, a abstinência e o autocontrole.

O CORPO VISTO COMO MÁQUINA – A DESSACRALIZAÇÃO DO CORPO
Entretanto, com o advento da era moderna (séc. XVI), tem início o movimento em direção à irreversível dessacralização do corpo. A partir de então, ele não é mais encarado como motivo de culpa, vergonha e expiação, mas, ao contrário, como alvo de admiração, cuidado e estudo. Finalmente emancipada da religião, a ciência leva a cabo seus primeiros experimentos de dissecção - os quais, se por um lado, trazem benefícios incalculáveis para o avanço da medicina, por outro, contribuem para que o corpo seja considerado em sua natureza física e biológica, exclusivamente. Tanto que resulta desta época a imagem utilitarista e mecanicista do ser humano como máquina - concepção, aliás, bastante controversa, exemplarmente ilustrada pela obra Frankenstein, de Mary Shelley.
O pensamento de RENÊ DESCARTES instaura a fragmentação da percepção corpórea: "Penso, logo existo". Esta modernidade perceberá duas "instâncias do corpo humano: "res extensa" (corpo e matéria) e "res cogitans" (coisa pensante). O que hoje entendemos como dualismo psico-físico norteará abordagens distanciadas da proposta Holística dos gregos". Há uma crescente fragmentação do ser, "dicotomizado" pelo racionalismo científico.


O CORPO COMO “SER-NO-MUNDO”, FACTÍVEL (INTERFACE COM O MUNDO)
Perspectiva positiva
Seja como for, é somente com a fenomenologia (séc. XIX e XX) que a dicotomia corpo-espírito começa a ser rompida, por meio da noção de facticidade. Isso quer dizer que o corpo não é mais nem entrave ao conhecimento, nem instrumento do mal e nem simples material à disposição, mas integra a totalidade do ser humano, como "ser-no-mundo". Ao estabelecer contato com outra pessoa, eu me revelo pelas manifestações corporais: gestos, olhares, atitudes etc. Por isso, o corpo é o primeiro momento da experiência humana, através do qual percebemos e somos percebidos como um "ser que vive e sente."

Perspectiva negativa
A despeito de ser nossa interface com o mundo, o corpo tem sido tratado apenas como mais uma mercadoria. E muito valorizada, por sinal. Em consequência, a indústria do sexo é uma das que mais se beneficiam desta nova realidade. Não é à toa que personalidades como Paris Hilton e Bruna Surfistinha fazem tanto sucesso. O que mostra que, até em uma cena de sexo, o corpo não é só um corpo.
A sociedade atual, principalmente a ocidental, vem através de uma lógica mercadológica, impor um padrão de corpo perfeito, desenvolvendo nas pessoas, hábitos e comportamentos que as levem a perseguirem uma "beleza física". Como relata Frei Betto:
"(...) a publicidade invade o universo psíquico que chega a inverter a relação pessoa-mercadoria. Esta, revestida de grife, passa a imprimir valor a seu consumidor/portador. (...) O produto passa a merecer mais valor que a pessoa, e esta se sente socialmente valorizada na medida em que ostenta a posse do produto. O consumo consome o consumidor." (BETTO, 2006)

NOÇÕES DE FACTICIDADE EM HEIDEGGER E SARTRE
Facticidade é a característica de ser um facto. É o nome que filósofos, como Heidegger e Sartre, dão àquele aspecto da existência humana que é definido pelas situações em que nos encontramos, o “facto” que somos forçados a confrontar. Um modo de ser, como um mero objeto de investigação desinteressada, separado de qualquer interesse prático ou pessoal. Tem a ver com as condições contingentes que não dependem das nossas escolhas.
A facticidade inclui todas aquelas minúcias factuais acerca das quais não se tem nenhum controlo. É o caso da data do nosso nascimento, os nossos pais, ou os limites do ser humano enquanto tal. Ou o caso de todos termos de morrer um dia. Para Heidegger e Sartre, a facticidade é muito importante, porque constitui a base necessária de todas as nossas ações. Apenas somos livres em situação. A nossa liberdade de ação, a nossa capacidade de transcender as nossas circunstâncias, sempre o foi contra um contexto de facticidade. Segundo Heidegger, é só na facticidade da sociedade, em termos de uma identidade e um sistema de valores, que nós próprios não escolhemos, que exercemos a “decisão” pessoal que define a nossa existência. [1]
staurou em torno da exposição dizia respeito às questões éticas envolvidas na obtenção e no tratamento dos corpos - provenientes da China -, bem como na suposta introdução de drogas e substâncias químicas antes mesmo de consumada a morte do indivíduo - o que representaria uma grave afronta aos direitos humanos. O exemplo singular nos convida a traçar uma breve história do corpo, desde os antigos gregos até os dias atuais, refletindo sobre a relação entre o físico e a consciência com base em fenômenos recentes.  

FILOSOFIA



Existencialismo: O homem está condenado a ser livre


Existencialismo é um conjunto de doutrinas filosóficas que tiveram como tema central a análise do homem em sua relação com o mundo, em oposição a filosofias tradicionais que idealizaram a condição humana.
É também um fenômeno cultural, que teve seu apogeu na França do pós-guerra até meados da década de 1960, e que envolvia estilo de vida, moda, artes e ativismo político. Como movimento popular, o existencialismo iria influenciar também a música jovem a partir dos anos 1970.
Apesar de sua fama de pessimista e lúgubre, o existencialismo, na verdade, é apenas uma filosofia que não faz concessões: coloca sobre o homem toda a responsabilidade por suas ações.
O escritor, filósofo e dramaturgo francês
Jean-Paul Sartre (1905-1980), maior expoente da filosofia existencialista, parte do seguinte princípio: a existência precede a essência. Com isso, quer dizer que o homem primeiro existe no mundo - e depois se realiza, se define por meio de suas ações e pelo que faz com sua vida.
Assim, os existencialistas negam que haja algo como uma natureza humana - uma essência universal que cada indivíduo compartilhasse -, ou que esta essência fosse um atributo de Deus. Portanto, para um existencialista, não é justo dizer "sou assim porque é da minha natureza" ou "ele é assim porque Deus quer".
Ao contrário, se a existência precede a essência, não há nenhuma natureza humana ou Deus que nos defina como homens. Primeiro existimos, e só depois constituímos a essência por intermédio de nossas ações no mundo. O existencialismo, desta forma, coloca no homem a total responsabilidade por aquilo que ele é.

 Somos os responsáveis por nossa existência
Se o homem primeiro existe e depois se faz por suas ações, ele é um projeto - é aquele que se lança no futuro, nas suas possibilidades de realização. O que isso quer dizer?
Eu não escolho nascer no Brasil ou nos EUA, pobre ou rico, branco ou preto, saudável ou doente: sou "jogado" no mundo. Existo. Mas o que eu faço de minha vida, o significado que dou à minha existência, é parte da liberdade da qual não posso me furtar. Posso ser escritor, poeta ou músico. No entanto, se sou bancário, esta é minha escolha, é parte do projeto que eliminou todas as outras possibilidades (escritor, poeta, músico) e concretizou uma única (bancário).
E, além disso, tenho total responsabilidade por aquilo que sou. Para o existencialista, não há desculpas. Não há Deus ou natureza a quem culpar por nosso fracasso. A liberdade é incondicional e é isso que Sartre quer dizer quando afirma que estamos condenados a sermos livres: "Condenado porque não se criou a si próprio; e, no entanto, livre, porque uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer" (em O existencialismo é um humanismo, 1978, p. 9).
Portanto, para um existencialista, o homem é condenado a se fazer homem, a cada instante de sua vida, pelo conjunto das decisões que adota no dia-a-dia.
"Tive que cuidar dos filhos, por isso não pude fazer um curso universitário." "Não me casei porque não encontrei o verdadeiro amor." "Seria um grande ator, mas nunca me deram uma oportunidade de mostrar meu talento." Para Sartre, nada disso serve de consolo e não podemos responsabilizar ninguém pelo que fizemos de nossa existência. O que determina quem somos são as ações realizadas, não aquilo que poderíamos ser. A genialidade de Cazuza ou Renato Russo, por exemplo, é o que eles deixaram em suas obras, nada além disso.


O peso e a importância da liberdade
Mas ao escolher a si próprio, a sua existência, o homem escolhe por toda a humanidade, isto é, sua escolha tem um alcance universal. João é casado e tem três filhos: fez uma opção pela monogamia e a família tradicional. Já seu amigo José é filiado a um partido político e vai para o trabalho de bicicleta: acha correta a participação política e se preocupa com o meio ambiente. As escolhas de José e João têm um valor universal. Ao fazer algo, deveríamos nos perguntar: e se todos agissem da mesma forma, o mundo seria um lugar melhor de se viver?
E é por esta razão que o viver é sempre acompanhado de angústia. Quando escolhemos um caminho, damos preferência a uma dentre diversas possibilidades colocadas à nossa frente. Seguimos o caminho que julgamos ser o melhor, para toda humanidade.
Fugir deste compromisso é disfarçar a angústia e enganar sua própria consciência. É agir de má-fé, segundo Sartre. Neste caso, abro mão de minha responsabilidade. Digo: "Ah... nem todo mundo faz assim!", ou então delego a responsabilidade de meus atos à sociedade, às pessoas de meu convívio familiar e profissional ou a um momento de ira ou paixão. No entanto, para os existencialistas, esta é uma vida inautêntica.
À primeira vista, o peso da liberdade depositado no homem pelos filósofos existencialistas pode parecer excessivamente pessimista, fatalista, de uma solidão extrema no íntimo de nossas decisões. Mas, ao contrário, o existencialista coloca o futuro em nossas mãos, nos dá total autonomia moral, política e existencial, além da responsabilidade por nossos atos. Crescer não é tarefa das mais fáceis.

Soren Aabye Kierkegaard 
antecessor do Existencialismo, encontra seu caminho dentro da Filosofia ao rebater os conceitos de Aristóteles ainda presentes nas teorias da época.
Foi este filósofo que legou ao existencialismo a idéia central da liberdade do homem, bem como de sua eterna aflição perante a falta de um projeto que regeria a caminhada humana, o que deixa o indivíduo à mercê de suas próprias decisões e atitudes. Ele vê a realidade como um feixe de possibilidades diante das quais o ser, com sua liberdade de escolha, pode optar pelas que mais lhe convém. Estes caminhos podem ser englobados, para ele, em três opções primordiais – o estilo estético, no qual cada um busca aproveitar ao máximo cada momento; o estilo ético, dentro do qual o homem procura viver com atitudes corretas e morais; e o estilo religioso, que se apóia sobre a fé.
De certa forma, a moderna física quântica parece adotar esta mesma visão, agora em uma versão mais científica, porém acompanhada da crença na existência de uma força superior, traduzida em termos energéticos. O existencialismo, porém, continua mais ativo que nunca, influenciando a filosofia, a literatura e as artes cinematográficas.

Autor: José Renato Salatiel, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

FILOSOFIA

Arte, Estética e Beleza na Filosofia


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A questão que observamos é a busca incansável pelo Belo, pelo que é prazeroso. O Corpo toma a forma de expressividade de beleza e sedução dentro da sociedade, nascendo como possibilidade de nova modalidade artística. Há o nu artístico, o fisiculturismo e uma espécie de “culto ao corpo” refletindo uma intensa ansiedade pela apreensão do que é belo. Mais que uma percepção, há uma busca pela posse da beleza através do Corpo. Para a Filosofia o significado da Palavra Estética vem do grego (aistheiké) e significa “perceptível pelos sentidos”. Refere-se a tudo o que pode ser percebido com agradável e belo pelos sentidos. O primeiro a utilizar este termo no sentido de Teoria do Belo e suas manifestações através da Arte foi Alexander Baumgarten (1714-1762), em 1750. O termo referia-se à cognição por meio dos sentidos, ou seja, o conhecimento sensível. Para Baumgarten, a estética tem exigências próprias em termos de verdade, pois alia a sensação ao sentimento e à racionalidade. Segundo ele a estética completa a lógica e deve dirigir a faculdade do conhecer pela sensibilidade. A beleza estética como “ a perfeição – à medida que é observável como fenômeno do que é chamado, em sentido amplo, gosto – é a beleza.”
O termo Estética também designa uma área específica de estudos filosóficos, definido pelo filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) como estudo das condições da percepção pelos sentidos. Assim como estudo e teoria do belo, a estética constitui um campo de investigação filosófica que pretende alcançar um tipo específico de conhecimento: aquele que se refere ao que é captado pelos sentidos. A Estética parte da experiência sensível, da sensação, da percepção sensível para chegar a um resultado que não apresenta a mesma clareza e distinção da lógica e da matemática. O principal objeto de investigação da Estética é o fenômeno artístico que se traduz na obra de arte.

1.       O que é o Belo?
Podemos responder a essa pergunta com base em dois em dois tipos de juízo:
A.      Juízo de Fato – dizer o que as coisas são
B.      Juízo de Valor – Julgar o que as coisas são: boas, ruins, bonitas, feias, etc. Podemos entender os juízos de valor em dois aspectos:
B.1 - Juizo Moral
B.2 - Juízo Estético (Julgamos se algum objeto, acontecimento, pessoa ou ser é belo).

2.         Onde se encontra a Beleza?

1.       Visão idealista
       Platão: A Beleza é algo que existe em si, é Objetiva. Seria uma forma ideal que subsistiria          por si mesma, como um modelo no mundo das ideias. O que percebemos no mundo sensível e achamos bonito só pode ser considerado belo porque se assemelharia à ideia de beleza que trazemos guardada em nossa alma.
* Platão interpreta a arte de modo ambivalente. Por um lado ele condena a pintura e a escultura como artes ilusórias, pois elas falsificam a imagem das verdadeiras formas da natureza; por outro, elogia a música e a dança como exercícios de educação para a compreensão do bem e da verdade. Para Platão, há um nexo fundamental entre o belo, o bem e a verdade, sendo a experiência de um a condução para o conhecimento do outro. Todavia não podemos caracterizar a constituição de uma estética no pensamento e nem na obra de Platão, pois a questão da arte e do belo só é colocada numa referência ao bem e a verdade, tendo como propósito não uma investigação do fenômeno artístico, mas uma determinação do conhecimento filosófico.

2.       Visão Materialista-Empirista
HUME (filósofo escocês): A beleza não está propriamente nos objetos (não é algo puramente objetivo), mas depende do gosto individual, da maneira como cada pessoa vê e valoriza o objeto – ou seja – o juízo do que não é ou não é belo, é subjetivo. Esse gosto estético seria, em grande parte, desenvolvido sob a influência da cultura em que se vive.

3.       KANT
CRITICA DA FACULDADE DO JUIZO: Embora o juízo estético sobre as coisas seja uma capacidade subjetiva, pessoal, há aspectos universais na percepção estética dos indivíduos. Nossa estrutura sensível (os órgãos dos sentidos) e nossa imaginação são as condições que tornam possível a percepção estética, mas essas condições são comuns a todos os seres humanos e, nesse sentido, pode haver certa universalidade nas avaliações estéticas.  (Kant levou em consideração a estrutura da sensibilidade humana). Kant entendia que o juízo estético não é guiado pela razão e sim pela faculdade da imaginação que nos proporciona prazer, o que não é nada lógico ou racional, e sim algo subjetivo, já que se relaciona ao prazer ou desprazer individual. Para o filósofo “todos os juízos de gosto são juízos singulares”. Kant diz também que “belo é o que apraz universalmente sem conceito”. Isso significa que é impossível conceituar, definir racionalmente o belo, pois “quando se julgam objetos simplesmente segundo conceitos, toda a representação da beleza é perdida.” Mas quando dizemos que algo é belo pretendemos que esse juízo esteja afirmando algo que realmente pertence ao objeto ou seja, não dizemos “isto é belo para mim, mas sim, isto é belo, esperando que os demais concordem com esse julgamento. Portanto, esse julgamento pretende ser voz universal, pois contem uma expectativa de que aquilo que julgamos belo, seja, de fato, belo.
Para Kant o Fundamento do Juízo de gosto seria a Vinculação Universal entre o Belo e o Sentimento de prazer. E como determinados objetos despertam em grande quantidade de pessoas o mesmo sentimento de prazer, é possível supor a existência de certa universalidade nos juízos estéticos.     

4.         HEGEL
Trabalhou a questão da beleza numa perspectiva histórica, não considerando apenas as condições da estrutura da sensibilidade humana. Para ele o relativo consenso acerca de quais são as belas coisas mostra apenas que o entendimento do que é belo depende do momento histórico e do desenvolvimento cultural. Esses dois fatores determinariam certa visão de mundo, a partir da qual algumas coisas seriam consideradas belas e outras não. Hegel procurou demonstrar essa tese analisando a história da arte, da Antiguidade até o seu tempo, e demonstrando que a noção de belo variava conforme a época e o lugar.

5.     A Questão do Gosto e da Subjetividade
O Gosto não pode ser encarado como uma preferência arbitraria da nossa subjetividade. A subjetividade em relação ao objeto estético precisa estar mais interessada em conhecer, entregando-se às particularidades de cada objeto, do que em preferir. Nesse sentido, ter gosto é ter capacidade de julgamento sem preconceitos. É a própria presença de arte que forma o gosto: torna-nos disponíveis, supera as particularidades da subjetividade, converte o particular em universal.

6.     A recepção estética
A experiência estética é a experiência da presença tanto do objeto como do sujeito que o recebe. Nenhum argumento racional ou conjunto de regras poderá nos convencer de que um objeto é belo se não pudermos percebê-lo por nós mesmos, se não estivermos frente a frente com ele. A obra de arte espera que aquele que a aprecie “jogue seu jogo”, isto é, entre no seu mundo, de acordo com as regras ditadas pela própria obra para que seus múltiplos sentidos possam aparecer.
A arte desafia o nosso intelecto tanto quanto nossas capacidades perceptivas e emocionais. Quando nos expomos a uma obra de arte podemos educar o nosso gosto, ter a sensibilidade mais aguda, e enriquecermos emocional e intelectualmente por meio do prazer e da compreensão que nos proporciona.
“Todas as obras de arte, e a arte em geral, são enigmas; isso desde sempre irritou a teoria da arte (...) É impossível explicar a broncos o que é a arte; não poderiam introduzir na sua experiência viva a compreensão intelectual. Está neles tão sobrevalorizado o princípio de realidade que interdiz sem mais o comportamento estético (...) Perante o ‘Para quê tudo isso?’, perante a reprovação da sua real inutilidade, as obras de arte emudecem total e irremediavelmente.”  (Teoria Estética, Theodor Adorno)
GOSTO: discussão ou disputa?
Quem é artista em nossa sociedade?  Cultura de Reprodução – Indústria Cultural ?
Que artes encontramos em nossa sociedade? 
A arte exige formalidade? É possível expressão artística desvinculada de academicismo?

FILOSOFIA

Filosofia Medieval - Patrística e Escolástica


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 A Idade Média compreende o período que vai da queda do Império Romano (séc. V)
ao séc. XV. São 10 séculos ou mil anos de história, em que se consolida o feudalismo, com a nobreza no poder. 

Esse período é marcado pela força espiritual e política da Igreja católica. A nobreza é ignorante, o conhecimento fica restrito aos mosteiros. A grande questão discutida é a relação entre a fé e a razão, entre filosofia e teologia. 
A filosofia cristã comportou dois grandes períodos: 
Patrística: do século I até o século VI 
Escolástica: do século XIII ao século XIV 

Filosofia Patrística (século I ao VII): difusão, consolidação e constituição do cristianismo.
É anterior ao início da Idade Média, mas é o período em que se faz a síntese da doutrina cristã e a filosofia grega, tendo forte influência para a filosofia medieval. 
Inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São João. A Patrística vem dos apóstolos Paulo e João e também de Padres da Igreja, que foram os primeiros dirigentes espirituais e políticos da Igreja após a morte dos apóstolos. Com o desenvolvimento do cristianismo, tornou-se necessário explicar seus preceitos às autoridades romanas e ao povo. Não podia ser pela força, mas tinha que ser pela conquista espiritual. 
Os primeiros pensadores padres elaboraram textos sobre a fé e a revelação cristã. Buscaram conciliar o cristianismo ao pensamento filosófico dos gregos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer e converter os pagãos da nova verdade. Tenta basear a fé em argumentos racionais. 
A filosofia patrística tem a tarefa de evangelizar e defender a religião cristã contra os ataques teóricos e morais do pensamento antigo. 
A filosofia patrística introduz ideias novas: a criação do mundo por Deus, pecado original, Deus e a trindade una, encarnação e morte de Deus, juízo final, ressurreição, origem do mal. 
As ideias cristãs eram impostas pelos Padres por meio das verdades reveladas  por Deus, eram verdades irrefutáveis e inquestionáveis: os dogmas. 

O grande tema de toda a filosofia patrística era conciliar razão e fé. 

Filosofia da Escolástica (sec. IX ao sec. XV): A Igreja Romana, cada vez mais forte, dominava a Europa, organizava cruzadas, criava as primeiras universidades e escolas. Essas escolas ensinavam várias matérias, gramática, geometria, aritmética, música, astronomia, todas elas submetidas à teologia. A escolástica continua o trabalho de adequar a herança do pensamento filosófico clássico às verdades teológicas. 
O auge da Escolástica se dá com Santo Tomas de Aquino, no séc. XIII, que busca sua fundamentação na sabedoria de Aristóteles. A obra de Aristóteles – metafísica, lógica, científica, filosófica, passa a ser de grande interesse na época. São Tomas de Aquino vai desenvolver um sistema compatibilizando o aristotelismo e o cristianismo. 
Há uma intensa retomada da filosofia grega, mas com o objetivo de compatibilizar e reinterpretar o conhecimento clássico de Aristóteles à luz das crenças religiosas. Uma das principais preocupações dos filósofos medievais era fornecer argumentações racionais, espelhadas nas contribuições dos gregos, para justificar as chamadas verdades reveladas da Igreja, tais como a da existência de Deus, a imortalidade da alma. 
Nesse período, a Igreja Católica consolidou sua organização religiosa e difundiu o cristianismo, preservando muitos elementos da cultura greco-romana. É a época feudal, em que a Igreja Católica surge como força espiritual, política, econômica e cultural. Apoiada em sua forte influência religiosa, a Igreja passou a exercer importante papel político na sociedade medieval; ampliou sua riqueza, tornando-se dona de quase um terço das terras da Europa e, no plano cultural estabeleceu que a fé era o pressuposto da vida espiritual. Fé significava a crença irrestrita às verdades reveladas por Deus. É a religião que vai fundamentar os princípios morais, políticos da sociedade medieval. 
A principal discussão desse momento é a questão da razão e da fé, da filosofia e da teologia. As investigações científicas e filosóficas não poderiam contrariar as verdades estabelecidas pela fé católica. Nesse período surge propriamente a filosofia cristã, a teologia. Seu tema principal é a prova da existência de Deus e da imortalidade da alma, ou seja, a prova racional da existência do criador e do espírito imortal, com o propósito de explicar a relação homem e Deus, razão e fé, corpo e alma, e o Universo como hierarquia de seres, onde os superiores – divinos – dominam os inferiores.