sexta-feira, fevereiro 14

Adeus Minha Senhora (ou Ode aos Desvalidos)

Se vós ainda tendes dúvidas de quem sou e os meus então lhe direi Minha Senhora:

Somos os que bebem

Os que sofrem

Os que choram


Esses somos nós Minha Senhora


Somos os traídos

Os que são iludidos

Os que são punidos


Esses somos nós Minha Senhora


Somos os que desistem

Os que não insistem

Os que nada decidem


Esses somos nós Minha Senhora


Somos os que são abandonados

Os que são maltratados

Os mal amados


Esses somos nós Minha Senhora


Somos as mães solteiras

Os pais ausentes

Os filhos insolentes


Esses somos nós Minha Senhora


Somos os que estão do outro lado da cidade

Do outro lado da felicidade

Do lado frágil da equanimidade


Esses somos nós Minha Senhora


Somos os que ficam, nunca os que vão

Os que esperam, não os que fazem esperar

Os que engolem em seco, não os que fazem engolir


Esses somos nós Minha Senhora


Somos os que se alegram com pouco, porque nunca tivemos muito

Somos os que só se entristecem com muito, porque a dor nunca nos vem aos poucos

Somos os que ficam de fora, no entorno, nos fundos, porque nunca somos convidados a entrar


Esses somos nós Minha Senhora


Somos revoltados, mesmo sem termos vivido a Justiça

Somos invejosos, sem mesmo saber o que é cobiça

Medrosos, mesmo sem entender o significado de coragem


Portanto, não se assuste Minha doce Senhora


Quando nos embriagamos

Quando aparentamos não sofrer

Quando as lágrimas não escorrem


Se, por acaso, trairmos

Iludirmos

Ou punirmos


Se decidirmos insistir

Em não desistir


Se abandonamos

Quem nos maltratam

Os que não nos amam


Se cruzarmos a ponte

Em busca de felicidade

Mesmo que apenas na dignidade


Se depois de muito esperarmos

Resolvermos partir

Para não mais engolir


E quando partirmos, Minha linda Senhora,

Não nos guarde rancor nem te sintas culpada,

Não foi vós, Minha Senhora, que nos fez partir,

Fomos nós, apenas nós cansados de sermos nós mesmos…


Por Cristian Menezes – 12/11/18




Farewell My Lady (or Ode to the Invalid)



If you still have doubts of who I am and mine then I will tell you My Lady:

We are the ones who drink

Those who suffer

Those who weep


These are us, my lady.


We are the ones brought

Those who are deceived

Those who are punished


These are us, my lady.


We are the ones who give up

Those who do not insist

Those who decide nothing


These are us, my lady.


We are the ones who are abandoned

Those who are mistreated

The badly loved ones


These are us, my lady.


We are single mothers

The absent parents

The insolent children


These are us, my lady.


We are the ones on the other side of town.

The other side of happiness

On the fragile side of equanimity


These are us, my lady.


We are the ones who stay, never those who go

Those who wait, not those who make them wait

Those who swallow dry, not those who make swallow


These are us, my lady.


We are the ones who rejoice with little, because we never had much

We are the only ones who are saddened with much, because the pain never comes to us bit by bit

We are the ones who stay outside, in the surroundings, in the back because we are never invited to enter

These are us, my lady.


We are revolted, even without having lived the Justice

We are envious, without even knowing what greed is

Fearfuls, even without understanding the meaning of courage


So do not be afraid My sweet lady


When we get drunk

When we pretend we do not suffer

When the tears do not run


If, by chance, we betray

We deceive

Or punish us


If we decide

To insist

In not giving up


If we abandon

Who mistreat us

Those who do not love us


If we cross the bridge

In search of happiness

Even if only in dignity


If after long we wait

Resolve to leave

Not to swallow anymore


And when we leave, My beautiful Lady,

Do not hold grudges or feel guilty,

It was not you, My Lady, who made us leave,

It was us, just us tired of being ourselves ...


Nenhum comentário:

Postar um comentário