A todos que me prezam e os
que desprezam, em silêncio, aos poucos que me amam, e aos que nem tanto, aos
que cuidei, e aos que descuidei também...só lhes peço uma coisa: me deixem ir
quando a minha hora chegar.
Não me tirem o colorido da
vida, ofuscando minha visão com a palidez de um quarto branco; não me
ensurdeçam com o bip de máquinas, tirando-me o prazer de ouvir uma boa música,
as palavras de quem gosto de escutar e dos que não gosto também, estarão me
privando de minha máxima predileta, “melhor ouvir isso do que ser surdo!”;
Não turvem meu olhar com
drogas licitas, estarão tirando o prazer que tenho de inebriá-lo com as
ilícitas, de viajar só observando o mundo a minha volta, as pessoas e suas
loucuras, as loucuras e suas pessoas;
Não deixem minhas mãos
atadas a tubos frios, debaixo de cobertores quentes, quero apertar uma mão,
qualquer mão que se achegue à minha, nessas horas acho que pouco importa,
qualquer mão é uma mão amiga, não há, como para Buarque, “distância entre
intenção e gesto”, só gesto cheio de intenção;
Por fim, não tirem,
rogo-lhes, o prazer sem igual do sabor das coisas, de todas as coisas, das
pequenas coisas, quero sentir, nem que pela última vez, o doce sabor da água
tocando meus lábios, não é só água, acredite-me, nunca é só água, é toda uma
sensação maravilhosa que vem junto, lembranças e sonhos, a saliva depois de um
bom prato, o transbordo de um bom copo, o fluido de outras bocas, o porvir de
outros desejos;
Não se deixe enganar, quando
a hora chegar, pelo meu semblante sôfrego, estarei feliz se assim o for; minha
respiração não estará se esgotando, mas se enchendo de outros ares;
Meus lábios não emudeceram,
apenas me cansei de falar dos defeitos dos outros e estarei pensando nos meus;
Meus punhos não se cerraram
por impotência, cerrei-os propositadamente para entrar em outro lugar socando o
ar como faz o campeão no pódio;
Por fim, quando cerrar os
olhos, não pense que eles estarão se fechando para a vida, pesados de todas as
injustiças e tristezas que viu, estão apenas, condescendentemente, acenando
para todos com um “até logo!”, “em breve nos veremos novamente”.
* Para minha mãe-avó Flora, com saudades
Por Cristian Menezes

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