Erro, erro muito. Errei a vida inteira e
continuo errando. Erros grandes, erros médios, pequenos errinhos. Mas erro. E
assumo meus erros, não me envergonho de errar. Ainda não estou pronto, não
nasci pronto, e talvez nunca fique totalmente pronto para não errar mais.
Aliás, a simples presunção de que se pode não errar mais já é, em si, um erro.
Erro e assumo as consequências dos meus
erros. Não vou me esconder na carapaça dos fracos, dos covardes, que se
defendem com a célebre frase: “erro, mas quem não erra?!?”. Os erros dos outros
não anulam os meus erros, e vice-versa. Cabe aqui uma frase maravilhosa de Sartre:
“Não importa o que fazem conosco. O que importa é o que fazemos com o que fazem
conosco”.
Sei, até, que boa parte dos meus erros são
provocados por erros alheios, mas aprendi também que sempre há o livre
arbítrio, a escolha, e posso, mesmo que exija um esforço mental descomunal,
interromper a lei de causa e efeito, “erraram comigo, vou errar com outro”. O
pensamento é abstrato, não é regido por leis físicas, mas por leis de convívio,
de caráter, de pensar o outro constantemente. Um dia consigo fazer isso em
todas as situações.
Mas uma coisa importante pude observar nessa
minha vida de ser errante. Erro tanto mais quanto maior é o meu amor, o meu
desejo, o meu apego. Quanto mais amo alguém, mais erro com esse alguém, porque
tenho pressa de acertar de vez. Quanto mais desejo alguém ou algo, mais erro
tentando satisfazer-me, tenho pressa em receber e dar prazer. Quanto mais quero
alguma coisa, mais erro tentando obtê-la, tenho pressa em escondê-la, para que
ninguém mais a possua.
Já amei pouco, ou não cheguei a amar, e errei
pouco, e de tão pouco amor e poucos erros essa pessoa saiu do meu coração sem
sequer deixar vestígio, como se nem ali tivesse estado. Já desejei pouco, e
errei pouco na sua busca, e sequer cheguei a sentir o dissabor de um desejo não
realizado. Já quis pouco alguma coisa, errei pouco, e nem cheguei obter o
objeto do meu apego.
A partir disso, desse entendimento sobre o
erro e suas razões, me vi num dilema: o ideal de amar, desejar e querer é o
equilíbrio entre o amar muito e amar pouco, desejar muito e desejar pouco,
querer muito e querer pouco. Mas, contudo, pensar esse equilíbrio, buscar esse
equilíbrio constantemente não é, em si, também um erro? Como posso amar alguém
comedidamente para não errar, se amar é o próprio transbordamento das emoções,
o auge, o ápice, o desespero de sentir? Como posso desejar algo ou alguém que
também é objeto de desejo de outros medindo o meu desejo para não desejar
demais ou de menos, se o desejo é a desmedida do querer, é querer intensamente,
libidinosamente? Como saciar o apego a algo, pensando o querer muito e o querer
pouco, se apego é justamente o exagero do querer ter, o egoísmo do possuir?
Diante disso, pelo menos para mim, só resta
uma opção: vou amar uma pessoa com toda a minha alma, com toda a intensidade
que puder amar, mas ciente que vou errar com essa pessoa de vez em quando, e
vou torcer para que o meu amor seja correspondido em igual intensidade a ponto
de nossos erros não serem vistos como erros, e assim, ignorando-os,
enfraquecê-los até que desapareçam de nossas vidas. Vou desejar com ardor, com
veemência, com todo afã que puder, mas sabedor de que vou errar muito e por
vezes não realizar meus desejos, trancá-los-ei no armário de desejos
irrealizados, irrealizáveis. Vou querer coisas com avidez, com perseverança,
sem qualquer altruísmo, mas com a certeza de que vou errar muito e por vezes
não vou chegar a conquistar meus objetivos, ou, se conquistados, perdê-los-ei
por causa dos meus erros.
Mais vale lutar e perder do que nunca ter
lutado, disse um sábio, provavelmente tão errante quanto eu. Lutei muitas
lutas, perdi muitas delas, ganhei algumas, mas não vou mudar minha essência de
lutador aprendiz, sempre em constante aprendizagem/erro/aprendizagem. Posso me
reciclar a qualquer momento, me transformar, me reinventar desde que haja razão
pra isso, desde que valha a pena. Porém, o motor dessa mudança, a fonte de onde
tiro forças para transformar-me é a intensidade com que vivo minha vida, meu
amor, meu desejo, meu querer.
Por Cristian Menezes - 2016?

NO FINAL TUDO SE RESUMA A: SER OU NAO SER...EIS A QUESTAO...
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