quinta-feira, abril 9

Ensaio: sobre erros e acertos (ou EU errante)



Erro, erro muito. Errei a vida inteira e continuo errando. Erros grandes, erros médios, pequenos errinhos. Mas erro. E assumo meus erros, não me envergonho de errar. Ainda não estou pronto, não nasci pronto, e talvez nunca fique totalmente pronto para não errar mais. Aliás, a simples presunção de que se pode não errar mais já é, em si, um erro.
Erro e assumo as consequências dos meus erros. Não vou me esconder na carapaça dos fracos, dos covardes, que se defendem com a célebre frase: “erro, mas quem não erra?!?”. Os erros dos outros não anulam os meus erros, e vice-versa. Cabe aqui uma frase maravilhosa de Sartre: “Não importa o que fazem conosco. O que importa é o que fazemos com o que fazem conosco”.
Sei, até, que boa parte dos meus erros são provocados por erros alheios, mas aprendi também que sempre há o livre arbítrio, a escolha, e posso, mesmo que exija um esforço mental descomunal, interromper a lei de causa e efeito, “erraram comigo, vou errar com outro”. O pensamento é abstrato, não é regido por leis físicas, mas por leis de convívio, de caráter, de pensar o outro constantemente. Um dia consigo fazer isso em todas as situações.
Mas uma coisa importante pude observar nessa minha vida de ser errante. Erro tanto mais quanto maior é o meu amor, o meu desejo, o meu apego. Quanto mais amo alguém, mais erro com esse alguém, porque tenho pressa de acertar de vez. Quanto mais desejo alguém ou algo, mais erro tentando satisfazer-me, tenho pressa em receber e dar prazer. Quanto mais quero alguma coisa, mais erro tentando obtê-la, tenho pressa em escondê-la, para que ninguém mais a possua.
Já amei pouco, ou não cheguei a amar, e errei pouco, e de tão pouco amor e poucos erros essa pessoa saiu do meu coração sem sequer deixar vestígio, como se nem ali tivesse estado. Já desejei pouco, e errei pouco na sua busca, e sequer cheguei a sentir o dissabor de um desejo não realizado. Já quis pouco alguma coisa, errei pouco, e nem cheguei obter o objeto do meu apego.
A partir disso, desse entendimento sobre o erro e suas razões, me vi num dilema: o ideal de amar, desejar e querer é o equilíbrio entre o amar muito e amar pouco, desejar muito e desejar pouco, querer muito e querer pouco. Mas, contudo, pensar esse equilíbrio, buscar esse equilíbrio constantemente não é, em si, também um erro? Como posso amar alguém comedidamente para não errar, se amar é o próprio transbordamento das emoções, o auge, o ápice, o desespero de sentir? Como posso desejar algo ou alguém que também é objeto de desejo de outros medindo o meu desejo para não desejar demais ou de menos, se o desejo é a desmedida do querer, é querer intensamente, libidinosamente? Como saciar o apego a algo, pensando o querer muito e o querer pouco, se apego é justamente o exagero do querer ter, o egoísmo do possuir?
Diante disso, pelo menos para mim, só resta uma opção: vou amar uma pessoa com toda a minha alma, com toda a intensidade que puder amar, mas ciente que vou errar com essa pessoa de vez em quando, e vou torcer para que o meu amor seja correspondido em igual intensidade a ponto de nossos erros não serem vistos como erros, e assim, ignorando-os, enfraquecê-los até que desapareçam de nossas vidas. Vou desejar com ardor, com veemência, com todo afã que puder, mas sabedor de que vou errar muito e por vezes não realizar meus desejos, trancá-los-ei no armário de desejos irrealizados, irrealizáveis. Vou querer coisas com avidez, com perseverança, sem qualquer altruísmo, mas com a certeza de que vou errar muito e por vezes não vou chegar a conquistar meus objetivos, ou, se conquistados, perdê-los-ei por causa dos meus erros.
Mais vale lutar e perder do que nunca ter lutado, disse um sábio, provavelmente tão errante quanto eu. Lutei muitas lutas, perdi muitas delas, ganhei algumas, mas não vou mudar minha essência de lutador aprendiz, sempre em constante aprendizagem/erro/aprendizagem. Posso me reciclar a qualquer momento, me transformar, me reinventar desde que haja razão pra isso, desde que valha a pena. Porém, o motor dessa mudança, a fonte de onde tiro forças para transformar-me é a intensidade com que vivo minha vida, meu amor, meu desejo, meu querer.

Por Cristian Menezes - 2016?

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