quarta-feira, abril 8

Ensaio: A Consciência de si ontem, hoje e amanhã

                                           Pawel Kuczynski - Desenhista e pintor polaco

“Ninguém é o que ele era nem vai ser o que ele é agora”. Ouvi essa frase de um personagem em um filme que assisti recentemente chamado Marjorie Prime. O filme todo é muito intrigante, mas essa frase me fez refletir muito. Ela brinca com o tempo verbal, mas principalmente nos faz pensar sobre a inconstante dialética que rege nossas vidas. “Ninguém é o que ele era…”, essa parte da frase me parece a versão intimista e mais didática da “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio”, do filosofo Heráclito. Na segunda vez que se queira entrar no rio, nem as águas, nem a pessoa são mais as mesmas. Assim como não somos agora o que fomos a um minuto atrás, ou mesmo quando iniciamos a frase. Deixamos de ser quem éramos no segundo em que nos tornamos lembrança de nós mesmos. A experiência vivenciada nos muda, para sempre, e mesmo que repitamos algo que fizemos, mesmo que nos esforcemos para repetir uma ação, um gesto, uma frase…nós, já não somos mais o mesmo. Ao repetir um erro, por exemplo, já não somos mais inocentes, “virgem” daquele tipo de erro, perdemos o argumento de não sabermos o que estávamos fazendo, pois já o sabíamos, já o fizéramos antes e isso muda tudo. Muda, inclusive algo dentro de nós.
O erro repetido, portanto, é mais errado que o erro anterior, o primeiro erro. Isso também serve para o acerto. A repetição do que fazemos certo tem maior valor, pois o primeiro acerto pode ter sido motivado pelo acaso, mas o segundo o foi pela experiência do primeiro, antes poderíamos ser apenas presunçosos, corajosos, petulantes até…mas a repetição do acerto é motivada pela consciência plena de ela ser o que ela é, a busca consciente do mesmo resultado. O eu de hoje não pode cometer o mesmo erro ou acerto do eu passado, nem o erro ou acerto é mais o mesmo, nem eu sou mais o mesmo ao praticá-lo. A água do rio e eu não somos mais os mesmos…
A outra parte da frase, “…nem vai ser o que ele é agora”, continua a nos arrastar vida a fora com a marca indelével de nossa responsabilidade por nossos atos, sejam eles bons ou ruins, erros ou acertos. Nunca conseguiremos ser o que somos, pois no segundo seguinte em que nos vislumbremos como desejo, anseio, sonho, perspectiva…seremos a soma do que fomos com o que somos hoje. Seremos nossos erros e acertos mais a consciência deles, sobre eles. É impossível pensar em voltar a praticar um erro ou acerto isentando-nos da reflexão sobre nossas ações e suas consequências.
Sobre o peso de nossas ações, repetir um acerto, uma atitude positiva diante da vida ou de outrem nos engrandece e nos eleva, digamos, espiritualmente, enquanto seres pensantes e reflexivos. Da mesma forma, um erro, uma atitude negativa nos diminui em dobro, mesmo que, para conseguirmos praticá-lo, tenhamos que nos cobrir com o manto da hipocrisia, o que, de alguma forma, pode até servir para amenizar o sentimento de culpa para conosco, mas não para com os outros. Podemos, portanto, no futuro sermos melhores ou piores, mas nunca exatamente quem somos.


Por Cristian Menezes – 22/04/19

Nenhum comentário:

Postar um comentário