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| Pawel Kuczynski - Desenhista e pintor polaco |
“Ninguém é o que ele era nem
vai ser o que ele é agora”. Ouvi essa frase de um personagem em um filme que
assisti recentemente chamado Marjorie Prime. O filme todo é muito intrigante,
mas essa frase me fez refletir muito. Ela brinca com o tempo verbal, mas
principalmente nos faz pensar sobre a inconstante dialética que rege nossas
vidas. “Ninguém é o que ele era…”, essa parte da frase me parece a versão
intimista e mais didática da “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio”, do
filosofo Heráclito. Na segunda vez que se queira entrar no rio, nem as águas,
nem a pessoa são mais as mesmas. Assim como não somos agora o que fomos a um
minuto atrás, ou mesmo quando iniciamos a frase. Deixamos de ser quem éramos no
segundo em que nos tornamos lembrança de nós mesmos. A experiência vivenciada
nos muda, para sempre, e mesmo que repitamos algo que fizemos, mesmo que nos
esforcemos para repetir uma ação, um gesto, uma frase…nós, já não somos mais o
mesmo. Ao repetir um erro, por exemplo, já não somos mais inocentes, “virgem”
daquele tipo de erro, perdemos o argumento de não sabermos o que estávamos fazendo,
pois já o sabíamos, já o fizéramos antes e isso muda tudo. Muda, inclusive algo
dentro de nós.
O erro repetido, portanto, é
mais errado que o erro anterior, o primeiro erro. Isso também serve para o
acerto. A repetição do que fazemos certo tem maior valor, pois o primeiro
acerto pode ter sido motivado pelo acaso, mas o segundo o foi pela experiência
do primeiro, antes poderíamos ser apenas presunçosos, corajosos, petulantes
até…mas a repetição do acerto é motivada pela consciência plena de ela ser o
que ela é, a busca consciente do mesmo resultado. O eu de hoje não pode cometer
o mesmo erro ou acerto do eu passado, nem o erro ou acerto é mais o mesmo, nem
eu sou mais o mesmo ao praticá-lo. A água do rio e eu não somos mais os mesmos…
A outra parte da frase,
“…nem vai ser o que ele é agora”, continua a nos arrastar vida a fora com a
marca indelével de nossa responsabilidade por nossos atos, sejam eles bons ou
ruins, erros ou acertos. Nunca conseguiremos ser o que somos, pois no segundo
seguinte em que nos vislumbremos como desejo, anseio, sonho, perspectiva…seremos
a soma do que fomos com o que somos hoje. Seremos nossos erros e acertos mais a
consciência deles, sobre eles. É impossível pensar em voltar a praticar um erro
ou acerto isentando-nos da reflexão sobre nossas ações e suas consequências.
Sobre o peso de nossas
ações, repetir um acerto, uma atitude positiva diante da vida ou de outrem nos
engrandece e nos eleva, digamos, espiritualmente, enquanto seres pensantes e
reflexivos. Da mesma forma, um erro, uma atitude negativa nos diminui em dobro,
mesmo que, para conseguirmos praticá-lo, tenhamos que nos cobrir com o manto da
hipocrisia, o que, de alguma forma, pode até servir para amenizar o sentimento
de culpa para conosco, mas não para com os outros. Podemos, portanto, no futuro
sermos melhores ou piores, mas nunca exatamente quem somos.
Por Cristian Menezes
– 22/04/19

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