quinta-feira, março 14

SOCIOLOGIA

Existe privacidade na Internet?



Blogs e Youtubes que perdoem, mas a notícia mais difundida de todos os tempos foi a da embriaguez e nudez de Noé, que chegou à totalidade da população do planeta. É verdade que, depois do Dilúvio, essa população se restringia à família do patriarca - mas, ainda assim, é um recorde insuperável.  
O episódio, relatado na Bíblia, fruto da indiscrição de um dos filhos de Noé, está listado entre os casos emblemáticos de invasão de privacidade pelo Especial Vida Digital de VEJA. Entre outros aspectos, a reportagem realiza um levantamento histórico de algumas noções de intimidade na cultura ocidental. Segundo a revista, a internet e outras tecnologias digitais não conseguem, de fato, apagar o desejo e até mesmo a possibilidade de uma busca pela privacidade.  
O interessante, aqui, é pensar a respeito de algo sobre o qual talvez as pessoas não tenham plena consciência: a de que suas noções de privacidade (e suas práticas) são totalmente diferentes daquela privacidade e individualidade que seus pais e avós conheceram. Os diários pessoais, um tipo de documento indicativo do surgimento da nossa moderna noção de individualismo e intimidade, hoje é mais praticado do que nunca, mas de uma forma muito distinta. Blogs e outras ferramentas na internet contêm toda sorte de pensamentos, reflexões pessoais e angústias íntimas, só que expostas a qualquer um que esteja disposto a ler. Ou seja, um cenário bem distante do caderninho com cadeado que ainda aparece nos filmes! A ideia de intimidade, portanto, é necessariamente reconfigurada de formas que ainda não se consegue vislumbrar com clareza.  
Muitos jovens tiram fotos deles próprios e dos amigos e as colocam na internet. Existe uma facilidade, hoje em dia, de fazer circular imagens, assim como pensamentos escritos. O difícil é controlar a própria imagem, como demonstra a reportagem. VEJA cita pessoas famosas, mas todos estão sujeitos a esse tipo de vigilância. Se alguém é fotografado sem seu conhecimento, por exemplo, numa festa ou em sala de aula, como saber que essa imagem não foi publicada ou multiplicada centenas de vezes? Se a foto foi copiada por alguém em outro país para usos os mais diversos, como ficar sabendo, ou mesmo controlar esses usos?  
Perfis públicos são, na atualidade, praticamente onipresentes. A partir da popularização do Orkut, diversos sites e ferramentas sociais convidam seus usuários a publicar tais perfis. Todo mundo sabe quantos perfis possui? Será que eles se preocuparam em controlar perfis antigos? Ou sabem exatamente onde colocaram qual informação e qual imagem? Por que é tão comum alguém fazer um perfil falso ou inventado de si próprio? Temos, como ponto de partida, a ideia de que o perfil é uma representação de si, tal qual é feita fora da internet. Uma pessoa não se revela completamente para todo mundo da mesma forma e assim também opera na internet, ao selecionar os tipos de informação que compartilha em cada lugar. 
É importante refletir sobre o controle e o acesso às informações veiculadas na internet. A reportagem cita a frase de Scott McNealy, fundador da Sun Microsystems: "Sua privacidade já é zero. Pare de sofrer com isso". Ou seja, segundo ele, cada um deve aceitar o fato de que não existe mais a possibilidade de privacidade. Todo mundo concorda? Que consequências esse tipo de afirmação tem para a forma como é pensada a intimidade?  
Muitas vezes, a própria tecnologia ajuda a explicar esse tipo de opinião. A internet possibilita acesso fácil e rápido a todas as informações que nela trafegam. Ou seja, cada ponto dessa rede, digamos o seu computador, possui um "endereço" específico que pode ser recuperado. E todas as informações que trafegam por esse ponto são, dessa forma, também recuperáveis. Esse tipo de controle total tem excelentes potenciais, quando, por exemplo, é necessário investigar criminosos que usam a internet para pedofilia ou crimes financeiros. No entanto, a mesma tecnologia pode ser usada para recuperar todo o seu histórico de acessos. Ferramentas gratuitas muito comuns, como Google e Gmail, entre outras, utilizam- se desses dados para oferecer, enquanto você navega, publicidade direcionada ao que eles imaginam ser seu interesse, com base nos sites visitados. Ou seja, sua navegação na rede e sua correspondência eletrônica já são particulares somente em parte, pois essas empresas usam seus dados pessoais para direcionar a publicidade.

Questões propostas sobre o texto “Existe privacidade na era da internet?”

1 – No texto, afirma-se que a internet e tecnologias digitais não conseguem apagar o desejo do ser humano por privacidade. Explique essa afirmação.

2 – O texto também afirma que “os diários pessoais...hoje são mais praticados do que nunca”, mas de uma forma diferente. Explique como funciona o diário pessoal digital.

3- Explique por que algumas pessoas costumam fazer perfil falso (fake) de si mesmo nas redes sociais.

4 – Qual sua opinião sobre a frase de Scott McNealy, fundador da Sun Microsystems: "Sua privacidade já é zero. Pare de sofrer com isso”?

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