quarta-feira, março 13

SOCIOLOGIA

Com que roupa?

 

A reportagem de VEJA explica que, apesar das exigências de formalidade, muitas convenções são mais flexíveis do que aparentam. Trajes como "esporte fino" ou "black-tie", comuns em convites de festas mais formais, podem ser adaptados, segundo a revista, para refletir as formas pelas quais realmente nos vestimos. As aulas a seguir aprofundam esse tema, levando a turma a avaliar como a moda, as convenções sociais e a etiqueta podem ajudar a compreender como nos relacionamos. 
Desde o vestido branco da noiva, que simboliza pureza e é quase indispensável ao ritual do casamento, até o uniforme escolar, que marca a condição de estudante, todas as roupas que usamos expressam uma mensagem pertinente aos meios sociais mais diversos. É importante também citar que tais convenções mudam com o tempo e com a cultura: na Índia, branco é a cor do luto; na China, vermelho é a cor da sorte. Um casamento nessas regiões, portanto, possui outras convenções que para nós seriam estranhas — ou mesmo inadequadas. 
Fica mais fácil entender isso quando pensamos em exemplos concretos de gafes relacionadas à moda. Peça que a moçada lembre episódios nos quais vestiu uma roupa errada ou inadequada. Foram de minissaia a um evento muito formal? Foram de terno a uma festa informal? O que acontece nessas situações? Que tipo de reação é provocada? Quando falamos de formalidade/informalidade, o que isso significa em um casamento, uma festa de aniversário, um churrasco ou um baile de formatura? Por que alguns eventos exigem mais pompa? 
Quando erramos o tom, a sanção social não demora a aparecer. Ou seja, sentimos o peso das convenções quando nos desviamos delas. Regras de vestir se aplicam com mais rigidez às mulheres. Exibir demais o corpo pode ser visto como um indício de que certa mulher não é adequada para o casamento, por exemplo. Para o homem, especialmente no Brasil, uma regra de ouro é não parecer efeminado. Um simples short curto pode levar a questionamentos a respeito de sua sexualidade, assim como o excesso de cuidado com a aparência. 
Regras também mudam de acordo com o tempo e o lugar. Enquanto algumas culturas, como a brasileira, são mais permissivas com relação à vestimenta, outras são mais severas. Isso não significa, como se pensou por longo período, que culturas de países quentes como o Brasil são menos civilizadas do que as européias. Simplesmente comprova que em países quentes, como explica VEJA, algumas regras não fazem sentido e há roupas inadequadas tanto ao clima quanto à cultura. 
Os medievais podem ser citados. Eles recomendavam não cuspir na mesa, mas comiam com as mãos e jogavam restos de comida para os cachorros durante uma festa. Não havia banheiros como conhecemos hoje — as necessidades fisiológicas eram feitas em penicos e depois os dejetos eram jogados na rua. Em tempos modernos, as noções de nojo e repugnância, além do controle das funções sexuais e fisiológicas, ordenam de forma muito mais dura as boas maneiras. Cuidados de higiene e saúde, tão centrais para nossa atual organização social, foram sendo gradativamente implementados no decorrer do século XX, com a descoberta de micróbios e de formas de combatê-los. 
Para o estudioso de moda no Brasil Alexandre Bérgamo, ela serve como intermediação simbólica nas relações entre grupos sociais. Isso quer dizer que funciona, entre outras coisas, para sinalizar sentidos e significados sobre a pessoa para a sociedade mais ampla. A moda ajuda a comunicar a posição de um sujeito social na trama de relações em que está inserido, e por isso mesmo saber vestir-se de forma "adequada" é quase uma obsessão em determinados círculos. Pois saber vestir-se e mesmo portar-se em certos locais (clube de elite, reunião de trabalho, entrevista de emprego ou boate da moda) faz a diferença entre participar ou não da dinâmica social ali presente. 
Ora, por que se presta tanta atenção para o que as atrizes de novela vestem? E por que os vestidos usados no Oscar causam tanto comentário e polêmica? Bjork firmou sua imagem de excêntrica ao escolher um vestido de cisne para uma premiação. No caso dela, a roupa confirma uma expectativa. Alguém imagina a princesa Diana ou a primeira-dama francesa Carla Bruni trajando o mesmo modelito? 
Mudanças na moda relacionam-se fortemente com mudanças nas formas de sociabilidade e nas relações entre pessoas. No decorrer da história brasileira, a variação nos modos de vestir corresponde à alteração nos papéis masculino e feminino e aos diversos ciclos econômicos e culturais que o país atravessou em sua história. 
Nos anos 1920, as mulheres abandonaram os excessos de tecidos e amarras que definiam o bom gosto no decorrer do século XIX e início do XX e adotaram uma moda mais solta e simples, que combinava com seu papel novo na sociedade: estavam entrando no mercado de trabalho e participando da vida pública. 
Conclua sugerindo uma redação em que cada um fale sobre moda e etiqueta — levando em conta que elas são uma expressão de como nossa cultura define o que é certo e errado, formal ou informal, limpo ou desleixado, líder ou liderado — e analise a importância de saber situar-se nesses sentidos.

Bibliografia
O Processo Civilizador, Norbert Elias, Ed. Zahar, tel. (21) 2108-0808
A Experiência do Status: Roupa e Moda na Trama Social, Alexandre Bérgamo, Ed. Unesp, tel. (11) 3242-7171
Moda e Sociabilidade: Mulheres e Consumo na São Paulo dos Anos 1920, Maria Claudia Bonadio, Ed. Senac, tel. (11) 2187-4450 

Questões propostas:
1 - Explique por que as regras do vestir se aplicam com maior rigidez as mulheres?

2 - As regras do vestir tem haver com o grau de civilidade da população de um pais? Se não, em que se baseia tais regras?

3 - Pará o estudioso Alexandre Bergamo, a ''etiqueta serve como intermediação simbólica nas relações entre grupos sociais''. Explique essa afirmação.  

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