O universo é processo. O mundo é processo. Somos processos. Estar em processo, ser processo significa não acabado, por acabar. E talvez nunca acabe. Estar em processo é tudo que se pode ser. O universo é, segundo cientistas, um processo em expansão. O mundo é um processo de reorganização constante. E nós? que tipo de processo somos? Para variar, somos bem mais complexos, ou não. O fato é que cada um de nós tem o seu próprio processo ou processos. De expansão, de retração; de reorganização, de desorganização; de mudança, de constância; de cura, de doença; de liberdade, de escravidão; de sair do poço, de afundar no poço…e isso não tem fim.
Perguntaram certa vez ao filósofo,
escritor, orador considerado ser de luz para os indianos, Jidu Krishnamurti
quantas religiões existiam no mundo e ele respondeu: existem tantas religiões quanto
existem pessoas. Ou seja, cada um tem sua própria religião. Mesmo em uma
igreja, um templo, uma tenda…as pessoas que ali estão compartilham, compactuam
de partes daquela religião, mas não de tudo e assim cada um tem, na verdade,
sua própria religião, suas próprias crenças que diferem das outras. E a
religião também faz parte dos processos humanos, pequena parte para uns, grande
parte para outros, mas apenas uma parte do todo.
Tenho conhecido muita gente
diferente nos últimos meses. Vejo-me dividindo, compactuando de parte do
processo deles, mas não é totalmente meu processo. Tenho meu próprio processo. E
isso é de extrema importância. Ter consciência do seu próprio processo para não
“embarcar” no processo alheio pensando ser o seu. Nunca será. Vejo isso como se
fosse uma procissão de navegantes. Pequenas, medias e grandes embarcações
saindo de um único porto em uma mesma direção. Aos poucos algumas embarcações se
juntam a outras por afinidades, seja por amizade, parentesco com os outros
navegantes ou mesmo apenas pela cor do barco, pelos enfeites que utilizaram
para orna-los…não importa. Ficam próximos por um tempo, uma parte do percurso,
mas aos poucos, ou às vezes abruptamente, se afastam uns dos outros. Alguns observam
esse afastar, esse dispersar, outros sequer tomam conhecimento, quando veem já
estão sós no meio ou à margem do rio.
Quando se tem consciência de seu próprio
processo, consegue escolher o momento certo para dispersar e ficar observando
cada um seguir seu próprio caminho, sua procissão, seu processo. Quando não, é
tomado sem querer pela angustia de estar só. E não se espante com a palavra,
porque se cada um tem seu próprio processo, é claro que estamos sós nesse rio
chamado existência.
Observei que às vezes você se apega, se aproxima de alguém, de um dos barcos
e o desejo é de ficar perto, seguir juntos por mais tempo. Mas nem sempre é
possível. Vai depender de o quanto os processos estão em intersecção, isso
mesmo, aquele termo da Matemática, mais especificamente em Teoria dos
Conjuntos, que quer dizer um conjunto de elementos que, simultaneamente,
pertence a dois ou mais conjuntos. Quando a intersecção acaba, e isso pode ser
em horas, dias, semanas, meses, anos, décadas…acabou a possibilidade de proximidade e
cada um precisa seguir seu caminho, seu processo.
Outa coisa que vi nisso tudo é
que tem gente que tem mania de achar seu processo melhor que o dos outros ou
que o seu (processo) está em um nível acima. Quando se dispersa e passa a
observar os outros barcos se distanciando costuma ficar tentando adivinhar
aonde a rota que o outro barco tomou vai leva-lo e julga estar aquele barco
tomando o caminho certo ou o errado, mais sinuoso, mais perigoso, menos
indicado…ledo engano. Não existe rota certa ou errada, processo certo ou
errado, só rota, só processo. E nada mais. Aqui cabe um trecho da música do
mestre Caetano Veloso, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é…”. Quando a reciprocidade, os gostos em comum, o prazer do estar junto acontece, quando "rola a química", a vontade
que dá é de tornar a se aproximar daquele barco e gritar: “Ei, essa rota aí é
fria. Volta, vai por ali, vira aqui, segue comigo que te ajudo a navegar, já
passei por esse trecho do rio e sei o caminho das pedras!!!”. Sinceramente? É perda
de tempo. É como se cada um de nós tivesse a própria bússola, o próprio GPS que
só obedece, só reconhece seu próprio Norte. Faz parte do processo.
Raramente acontece. Já vi
acontecer. Não comigo, não agora. Mas já observei um barquinho se aproximando
do outro e como quem não quer nada, lenta e silenciosamente encosta. E tão
sorrateiramente quanto se aproximou leva de pouquinho em pouquinho o outro
barquinho para uma rota mais tranquila, mais segura. E os dois barquinhos
conseguem seguir juntos rio abaixo, numa rota só deles, com o pôr do sol às
costas…a essa aproximação suave os outros navegantes do “rio da vida” como eu
chamam de AMOR.
Por Cristian Menezes - 9/2020

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